Vou começar já fazendo um disclaimer: não sou nutricionista, nunca estudei nutrição, faço minhas pesquisas para a minha própria informação e não sou fonte de informação nutricional para ninguém. Tem dúvidas sobre alimentação? Busque um profissional para te auxiliar, nutricionista ou nutrólogo.

Pronto. Isso posto, quero falar sobre um tema que já vejo rolando há algum tempo, mas que bombou esta semana por conta de um artigo na Revista Galileu: ortorexia. Desde a primeira vez que ouvi falar deste assunto eu fiquei um pouco chocada. E olha que isso foi anos atrás e eu nem era tão saudável assim. Mas me pareceu um tanto absurdo considerar a busca por uma alimentação saudável um distúrbio. Vale dizer que a ‘doença’ não faz parte do DSM-V (Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders), o manual de psiquiatria.

Eu concordo que uma preocupação excessiva com a alimentação não é legal. E o motivo para isso é que limita a vida do preocupado. Mas, gente, sério que cortar alimentos/ingredientes que fazem mal à saúde (lactose, glúten, carboidratos, corantes etc.) pode ser considerado um problema enquanto se entupir de açúcar e farinha não é?

Todo mundo aqui já deve saber que eu sou vegetariana e faço low-carb/lchf. Então a preocupação com a alimentação é uma constante na minha vida. No passado eu lia ingredientes e questionava preparos apenas para me certificar de não estar consumindo carnes, caldos, gelatinas. E isso já era suficiente para me privar de algumas interações sociais. Comer risoto fora de casa? Muito improvável. A maioria dos chefs enfia um caldo de frango no risotto que deveria ser de vegetais. Sobremesas? Só tendo certeza absoluta de que não entrou gelatina nenhuma ali. Ou seja, sem lista de ingredientes, eu já não comia.

Hoje ficou um pouco pior, porque minha preocupação agora inclui os carbos. E acredite, tem um monte de receita dita low-carb por aí que inclui açúcar demerara (como se fosse saudável) e frutas aos montes. Caso real, semana passada mesmo vi uma postagem de bolo low-carb com açúcar demerara e bananas. Então, mais uma vez, só como alimentos preparados se conseguir saber exatamente os ingredientes. Isso me limita? Às vezes. Já tive uma imensa vontade de comer um mousse de chocolate, mas não tinha certeza se ia açúcar e gelatina na preparação, então desisti. FYI, é possível fazer mousse de chocolate sem estes ingredientes, Rita Lobo mesmo já mostrou como.

Mas, ao mesmo tempo, eu tenho total controle sobre o que como. E mesmo estando cercada de gente comendo pão e bolo de chocolate, sou capaz de apenas tomar um café e nada mais. Não me tranco dentro de casa por conta disso. Será que esta minha preocupação com o que eu coloco dentro do meu corpo é um início de transtorno alimentar? E se eu te disser que graças a isso eu perdi 20kg, saí da obesidade grau I e me tornei uma pessoa muito mais saudável? E se isso influenciou na minha força de vontade de fazer atividade física ao ponto em que eu quero ir para academia e me acabar na musculação para ver a minha composição corporal mudar? Alguém ainda vai dizer que isso é doença? Mesmo quando só me faz bem?

Agora suponhamos que seja o contrário. Que eu seja viciada em doces e pães. Que eu só coma carbos o dia inteiro: pão no café da manhã, arroz no almoço, bolinho light no lanchinho da tarde e um pratão de macarrão no jantar. E que coma de 3 em 3 horas, tendo fome ou não. Meu corpo passa o dia inteiro lutando com a insulina, meu humor oscila, e a gordura vai se acumulando em tudo, do culote ao fígado. Neste cenário, ninguém vai dizer que eu tenho um distúrbio. Que devo ter cuidado e me tratar. Mesmo sabendo que açúcar é mais viciante que heroína, ninguém vai fazer uma intervenção e me mandar para uma clínica de reabilitação.

Mas ouse dizer que não toma leite (no meu caso, pelos carbos), não come nada feito de farinha de grãos (trigo, arroz, whatever), e ainda não consome carne alguma (e não, nem peixe, afinal peixe não cresce em árvore) e você agora corre o risco de ser considerado ortoréxico.

O que eu acho de tudo isso? Acho que estamos sim adoecendo. Mas a doença se chama burrice. Não faça suas escolhas com base em um artigo publicado numa revista pop. Não as faça com base no que eu ou qualquer um que escreva um blog faz. Pesquise fontes confiáveis, busque um bom profissional de saúde para te acompanhar. Não seja ingênuo e cuide sim da sua alimentação. Com base na minha experiência pessoal eu posso dizer que isso só vai trazer benefícios.